Na Halcyon Gallery, de Londres, mostra criativa de pop art exibe obras icônicas do pai do movimento, com pinturas originais da série Ads, raramente vistas. Cenário do comércio de arte do século 20.
Andy Warhol, um dos ícones mais importantes da pop art, revolucionou a arte contemporânea com suas obras marcantes e interpretações únicas da cultura de massa. Sua visão inovadora e irreverente continua a inspirar artistas de todo o mundo, mantendo viva a sua influência e legado até os dias atuais.
As palavras de Warhol sobre os ’15 minutos de fama’ ecoam na sociedade atual, onde a busca pela notoriedade e reconhecimento se tornou uma obsessão para muitos. Em um mundo cada vez mais conectado e digital, a ideia de alcançar a fama em um curto espaço de tempo se tornou mais palpável do que nunca. O fenômeno das redes sociais, por exemplo, proporciona a todos a oportunidade de ter seus 15 minutos de fama, mesmo que efêmeros.
Andy Warhol: O Ícone da Pop Art do Século 20
Exposições e sucessivas vendas no mercado secundário reforçam a atualidade e o crescente apelo comercial de um dos grandes nomes da pop art – o movimento que, a partir dos anos 1950, apropriou-se de referências e símbolos da cultura de massa e da sociedade de consumo.
Em cartaz na Halcyon Gallery, de Londres, a mostra Beyond the brand exibe criações emblemáticas de Warhol, ao lado de pinturas originais de sua série Ads, raramente expostas. Nelas, o artista explorou a intersecção entre arte e comércio, em gravuras e em um conjunto de dez telas com releituras de anúncios famosos, a exemplo do perfume Chanel Nº 5, de um computador da Apple e de um Fusca.
Iniciada em 1985, Ads marca o ápice do interesse de longa data de Warhol pelo universo do consumo, em trabalhos situados em uma fronteira tênue entre as linguagens publicitária e artística, escreve o historiador da arte e curador Joachim Pissarro, em um ensaio para a mostra londrina.
‘Esses anúncios irradiavam temas como cosmopolitismo, tecnologia, estrelato no cinema, poder político, elegância e luxo em um vocabulário visual que contrastava fortemente com a produção aparentemente simples, pitoresca, mas encantadora da carreira de grande sucesso de Warhol como ilustrador comercial, ocorrida 30 anos antes’, avalia Pissarro.
O dólar e a sopa Galeria dedicada exclusivamente à produção de Warhol, a Revolver, de Los Angeles, realizou até a semana passada uma venda especial de 100 obras do artista, em parceria com a Artsy, plataforma online voltada ao colecionismo. Com preços a partir de US$ 10 mil, a seleção incluiu trabalhos como a pintura Dollar Sign e The Soup Cans I.
A arte de Warhol é um espelho das mudanças culturais e sociais de seu tempo e seu trabalho não apenas captura a essência da cultura das celebridades e do consumismo, mas também reflete sobre temas sociopolíticos mais profundos’, destaca o galerista Ron Rivlin, da Revolver, em entrevista ao NeoFeed.
Warhol está entre os três artistas com mais obras na lista de recordistas em leilões, ao lado de Vincent van Gogh e Pablo Picasso (Crédito: Tate Modern) Na série Ads, o artista explorou a intersecção entre arte e comércio, como a tela com a releitura do anúncio do perfume Chanel Nº 5 (Crédito: Divulgação) Warhol sempre teve interesse pelo universo do consumo (Crédito: Revolver Gallery) A pintura The Dollar Sign reflete a sociedade capitalista da qual Warhol emergiu (Crédito: Revolver Gallery) Criados por Warhol, filmes mudos, como o com o ator Dennis Hopper, reforçam a atração do artista por ícones da cultura de massa (Crédito: Christie’s) ‘A série Electric Chair, por exemplo, confronta a pena de morte e o sistema judicial nos EUA, ilustrando o envolvimento de Warhol com questões controversas da sua época’, diz ele.
‘Da mesma forma, suas gravuras de Marilyn Monroe mergulham no culto à celebridade e na tragédia subjacente à personalidade pública de Monroe.’ A propósito de Marilyn, em maio de 2022, a serigrafia Shot Sage Blue Marilyn, de 1964, tornou-se uma das obras de arte mais caras do século 20, ao ser arrematada por US$ 195 milhões pelo galerista Larry Gagosian em um leilão da Christie’s de Nova York.
Feita em 1964, dois anos depois da morte da atriz, a tela colocou Warhol entre os três artistas com mais obras no rol de recordistas em leilões, ao lado de Vincent van Gogh e Pablo Picasso. De sua autoria, também estão na lista Eight Elvises e Triple Elvis, ambas de 1963, retratos do cantor Elvis Presley. Em comum, todas essas obras têm o imediato reconhecimento por parte do público.
Mas o que as tornam tão especiais? Zona de ambiguidade Em conversa com o NeoFeed, Geraldo de Souza Dias, professor do departamento de artes visuais da ECA-USP, observa que Warhol sempre trabalhou com imagens populares, acrescentando uma aura sofisticada a elas. ‘Mas é um comportamento que a gente não sabe decifrar se é cinismo, se é endosso’, afirma.
‘Ele fica sempre numa zona de ambiguidade.’ Doutorando pelo mesmo departamento da ECA-USP, com um trabalho focado sobretudo na produção de Warhol da década de 1970 até a sua morte, Leonardo Nones também aponta um caráter ambíguo na produção do artista, mas de outra ordem.
‘Ao mesmo tempo em que é o artista, Warhol se coloca ao lado do espectador, que assiste às mesmas estrelas de cinema, emociona-se e estimula-se com esses elementos da cultura’, afirma Nones, ao NeoFeed. Warhol é um personagem constantemente retomado pela indústria do entretenimento que representou em suas obras.
Em 2022, a Netflix exibiu Diários de Andy Warhol, documentário cujo ponto de partida são as anotações pessoais, feitas a partir de 1968, quando o artista levou um tiro, disparado pela feminista radical Valerie Solanas. Em pós-produção, o longa-metragem The Collaboration se debruça sobre a colaboração, nos anos 1980, entre Warhol e o também artista plástico Jean-Michel Basquiat (1960-1988).
Eles serão interpretados, respectivamente, pelos atores Paul Bettany e Jeremy Pope. Os dois foram também protagonistas da peça homônima, encenada em Londres e em Nova York.
Até a semana passada, a Christie’s de Los Angeles abrigou uma mostra dos Screen Tests, uma seleção de oito filmes mudos, que reforça a atração de Warhol por ícones da cultura de massa, como os cantores Lou Reed e Bob Dylan e o ator Dennis Hopper. A exposição era uma amostra do projeto de digitalização dos filmes do artista, tocado pelo Andy Warhol Museum, em parceria com a casa de leilões.
Para Sonya Roth, vice-presidente da Christie’s, a exibição representou uma convergência de cinema, arte e história, com as ‘imagens em movimento’ criadas por Warhol na década de 1960. Imagens que, segundo ela, ‘impactaram para sempre o panorama da arte contemporânea’.
Relacionados O restaurante Maxim’s, de Paris, está em busca do brilho perdido Na crise climática, sobrou para Monet, Da Vinci, Picasso, Van Gogh… Pharrell Williams virou livro e caso de estudo em Princeton. Eis o ‘Pharrell-isms’
Fonte: @ NEO FEED
Comentários sobre este artigo