Danilo Avelar participou do MunDu Meneses, com print da conversa gerando repercussão pública. Gestão de crise devido pressão da torcida por situações de racismo.
A presença de racismo nos ambientes online é uma realidade que infelizmente ainda persiste nos dias de hoje, como foi o caso que envolveu Danilo Avelar. O preconceito racial é um problema grave que precisa ser combatido em todas as suas formas, seja no mundo virtual ou no mundo real.
O caso de racismo que resultou na saída de Avelar do Corinthians serve como alerta para a necessidade de intensificar os esforços na luta contra o preconceito racial. A conscientização e a educação são fundamentais para promover a igualdade e o respeito entre todas as pessoas, independentemente de sua cor de pele.
Racismo: Lateral Avelar se envolve em polêmica com preconceito racial
Um perfil no X (antigo Twitter) postou um print da suposta conversa, na qual o lateral teria chamado outro usuário, estrangeiro, de ‘filho de rapariga preta’.
Durante o programa, Avelar reconheceu o erro e deu a sua versão do ocorrido.’Da maneira que foi, obviamente muitas pessoas pegam a manchete e acham que foi uma acusação muito grave ou um xingamento direto a alguma pessoa, o que não foi. Eu estava em um jogo online, não existe nem o rosto da pessoa, era um estrangeiro, um argentino, que até hoje não sei quem é.
Naquele âmbito do jogo, existia uma troca por parte dele que, infelizmente, a gente tem visto que estão tendo muitos relatos de racismo com brasileiros contra times estrangeiros, desse argentino começar a descarregar palavras de tons racistas para nós brasileiros, independentemente de cor, só por ser brasileiro.
Eu, por ser brasileiro dentro do jogo, ele começou a falar ‘você é brasileiro de m*’, ‘você é macaco’, ‘vocês são favelados’… e ficou por 45 minutos falando isso. Tem um chat dentro do jogo. Aquilo foi consumindo dentro da minha cabeça, mas eu de fato não dei tanta importância quanto deveria.
Quando acaba esse jogo, que no caso a gente ganhou, eu acabo descarregando uma palavra em cima dele, que não deveria ter feito. Só que fica ali, eu de fato não vi a pessoa, usei o mesmo tom, as palavras, ali dentro do jogo’, começou por dizer.’Tomou uma proporção muito grande. Sabiam que eu era uma pessoa pública dentro do jogo, usou isso e propagou.
Quando passa o dia seguinte, que eu passo a madrugada inteira com todas as informações, muita gente me ligando e aquela doideira que foi, eu não tinha entendido até então a gravidade do assunto.
No outro dia eu me encontro com a diretoria (do Corinthians), eles passam a entender o que aconteceu, eles viram que eu não proferi as palavras a uma pessoa negra, foi um jogo online, onde não tem foto de ninguém ali, só que mesmo assim eu tive o ato.
O time tinha que dar uma reposta pública porque estava havendo uma repercussão, e eu nem sabia o que falar porque tinham questões jurídicas e burocráticas. E teve uma pressão da torcida, da comunidade, querendo saber o que iria acontecer. Entendo que foi uma gestão de crise de várias pessoas.
O Corinthians tomou as providências, não tinha muito o que fazer, eu acabei entendendo, acabei reconhecendo o meu erro. Eu poderia me omitir, dizer que era um parente, que era fulano, até porque não tinha o meu rosto e nem o meu nome, era o meu nickname que estava ali, e nem o rosto da pessoa. Eu poderia falar ‘não fui eu, prova’.
Só que eu senti no coração uma coisa que talvez eu deveria ‘eu vou bater no peito”, prosseguiu.”Por que mesmo não me sentindo um racista, eu tive uma atitude coerente em relação a isso?’ Aí eu fui buscar informações.
Não vai adiantar nada se eu não melhorar internamente, então fui buscar informações, estudos, entrar na comunidade, fui conversar com pessoas, fui tentar entender a dor de uma pessoa que tem dificuldade na sociedade para entender como a pessoa se inclui na sociedade em base da situação dela.
Coisas que, na bolha que eu cresci, eu não tive essa oportunidade de conhecimento, porque eu de fato cresci numa bolha aonde não tem essas informações, nem no estudo, em casa, amigos, em nada. A sociedade realmente vive em uma bolha. Aí eu comecei a entender porque eu acabei tendo uma atitude dessas, achando que era simplesmente uma expressão de desabafo, um xingamento.
Realmente foi um xingamento, mas não quer dizer que realmente saiu de dentro do meu coração, mas eu tive um xingamento. Por que eu tive um xingamento racista, sendo que eu não sou, nunca me senti, no futebol a gente convive com todo mundo, não tem discriminação com ninguém, por que eu falei isso, cara?
Tem toda uma questão estrutural do nosso país, uma questão cultural, educacional, que faz com que muitas coisas são normais, aonde não são. São as brincadeirinhas com os amigos, que às vezes não é, às vezes o amigo aceita você brincar com ele só para ele não ter uma empatia contigo ‘deixa o cara falar mesmo que eu sou negão e vou falar o quê para o cara? Ele não entende nada. Tá tudo bem’.
E a gente acaba achando que está tudo bem e não é’, disse.’Eu passei a entender a dimensão disso buscando informações, buscando entender e sabia que teria uma consequência grande, talvez de trabalho, repercussão pública.
Mas está tudo bem, eu queria estar bem com a minha consciência, para estar com a minha consciência limpa e tranquila e replicar isso às pessoas próximas, meu filho, minha família, para eu ser uma pessoa melhor. Está todo mundo passível de erro, está tudo bem você errar, agora o que você faz com o seu erro é o que vai definir o seu caráter. Eu queria ter essa consciência.
Tudo bem eu errar, todo mundo erra, sem hipocrisia, todo mundo brinca com um tom racista, a gente sabe disso. Só o que a gente faz além disso? Só levantar uma bandeira, um post? Não vai mudar se você não aprofundar, estudar e entender. E isso que eu quis buscar internamente.
Eu entendi que foi uma coisa grave, mas não me afundei na situação, quis sair dela de uma situação melhor, buscar estudo, conhecimento, que é o que eu sou hoje’.’Hoje estou com o ouvido apurado, com o radar aceso com essas situações. Desde fazer ações, fazer um comentário com um amigo, olhar torto para um parceiro que fez uma brincadeira e não deveria.
Era o que eu queria fazer, estar mais atento às situações de racismo no país. Não preciso levantar uma bandeira e ser ativista, no meu redor eu consigo melhorar uma pessoa ou outra usando a minha experiência, o meu erro. Se eu erro, você pode aprender com o meu erro, assim como eu com o seu.
Essa é a mensagem que eu quis deixar para as pessoas, tudo bem, errei, um assunto grave, sério, eu assumo, dou a minha cara à tapa, não tem problema, só que olha o que eu faço com o meu erro, será que as pessoas reconhecem isso, o que eles fariam se errassem? Se esconderiam no erro? Se afundariam no erro? Ou jogariam para outro?
Não, eu quis assumir, quis fazer algo melhor, diferente, para eu estar bem. Está tudo certo. Uma pessoa me perguntou ‘Danilo, você não precisa ficar provando para as pessoas, você não é isso, a gente te conhece’. Tudo bem, não preciso, mas dentro de mim eu preciso estar bem comigo mesmo. Eu não preciso escutar o perdão das pessoas, teve um monte de corintiano que veio me pedir perdão.
‘Perdão, te julguei, estava com a cabeça quente’, ‘você nunca deveria ter saído do Corinthians’, ‘volta para o Timão’. Muitas pessoas que mandam mensagens, e eu digo ‘não é perdão que você precisa pedir, tem que reconhecer o que uma pessoa faz com o erro, e eu fiz algo que eu queria o reconhecimento. E só, vida que segue.
Hoje, eu sou uma pessoa muito tranquila, onde vou escuto elogios daquilo que eu fiz, que é raro as pessoas assumirem e tentarem melhorar com o erro. Essa era a missão que eu senti que tinha que fazer. Se eu fiz, não foi à toa, era um processo da minha vida. Busquei caminhar, busquei seguir em frente e melhor com ele.
Vida que segue, vambora, quero ser mais interrogado, quero falar mais porque precisa’, finalizou.Após deixar o Corinthians, Avelar foi para o América-MG, onde permaneceu até a temporada passada. Neste momento, o lateral-esquerdo de 34 anos está sem clube.
Veja a participação completa de Avelar no MunDu Meneses
Fonte: @ ESPN
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