BC executou plano de voo e metas fiscais, com foco na desinflação e estabilidade da taxa de juros, considerando PPC e riscos inflacionários.
O Copom do Banco Central decidiu, pela sexta vez seguida, reduzir a meta para a Selic em 0,5%, fixando-a em 10,75% ao ano. Assim, mantém-se a estratégia iniciada em agosto, com os cortes na taxa básica de juros.
Essa é mais uma medida para estimular a economia, visto que a Selic influencia diretamente o custo do crédito para consumidores e empresas. Com a redução da taxa básica de juros, espera-se um aumento nos investimentos e no consumo, impulsionando a atividade econômica de forma geral.
O IPCA de fevereiro, meta para a taxa básica de juros e a Selic
O IPCA de fevereiro, divulgado na última semana, acelerou acima do esperado. Os 0,42% de janeiro foram transformados em 0,83%, contra expectativa de 0,78%. As expectativas para 2024 deixaram de se cair, tendo subido já por duas semanas. E para 2025, leve alta também. Os dois anos constam no chamado ‘horizonte relevante‘ considerado pelo BC para, desde já, calibrar a Selic.
A meta de inflação de 2024 em diante é de 3% cravados, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Para este ano, a maior parte dos analistas mira agora nos 3,79%, abaixo dos 3,81% previstos antes do último corte da Selic. Para o ano que vem, a previsão saiu de 3,51% a 3,52%.
Ou seja, pouco acima, pouco abaixo, as expectativas seguem distantes da meta.
Do ponto de vista do consumo, Selic mais alta ou mais baixa implica empréstimos e financiamentos mais caros ou mais baratos. E, assim sendo, serve de ferramenta para esfriar ou esquentar a demanda e, a reboque, a inflação. Para o mercado financeiro local, a renda fixa pagando mais significa menor poder de sedução para a renda variável.
Já para o internacional, a renda fixa no Brasil pode ou não oferecer retorno compatível aos riscos, e assim atrair ou afugentar dólares. O que, por sua vez, ajuda a domar a inflação por meio do canal do câmbio.
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O ambiente externo segue volátil, marcado pelos debates sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países.
Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho.
O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes. Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom.
A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente. As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025.
As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 3,9% em 2025. O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.
Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária. Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau maior, o de 2025.
Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego. A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.
O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente.
Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião.
O Comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos. Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira. No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,95, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC).
O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária ‘verde’ em dezembro de 2024 e de 2025.
O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento, que passou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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