As agremiações foram palco de resistência durante o regime militar, com enredos progressistas e críticas sociais, transformando-se em espaços de luta e preservação cultural.
As quadras das escolas de samba já foram invadidas pela sombra da ditadura, que impunha uma atmosfera de repressão e medo aos foliões. Mesmo diante da brutalidade do regime autoritário, muitas agremiações resistiram bravamente, mantendo viva a chama da cultura e da resistência.
Em meio ao governo ditatorial, as escolas de samba se tornaram refúgios de resistência e celebração da diversidade cultural. Mesmo sob forte repressão política, os sambistas nunca deixaram de manter acesa a chama da liberdade e da luta pelos seus direitos.
Repressão e Censura na Ditadura e Suas Consequências
A repressão e a censura se impuseram às atividades dos sambistas. Até aquele momento as batidas policiais que sofriam eram por discriminação porque os sambistas eram considerados uma categoria marginalizada da sociedade. Com a ditadura, a situação se agravou. Escolas como Vai-Vai, Camisa Verde e Branco e Unidos do Peruche, em São Paulo, e Império Serrano, no Rio de Janeiro, além de verem suas quadras invadidas, tiveram que buscar meios para manter seus enredos e as atividades em comunidade.
Aos 77 anos, o jornalista Fernando Penteado, atual diretor cultural da Vai-Vai, considerado um griô do samba, que na cultura africana é a pessoa que mantém viva a memória do grupo, contando as histórias e mitos daquele povo, lembrou que na década de 1960 o samba era meio marginalizado e não tinha a aceitação pública que tem atualmente. Mas, durante o regime militar a perseguição ficou maior, especialmente, contra compositores que eram mais de esquerda política.
Segundo Penteado, o Bixiga, onde a escola foi fundada, era um bairro contestador, o que a tornou mais visada pela repressão. Durante os ensaios da escola, a presença policial era constante, gerando um clima de tensão e medo entre os participantes. A repressão individualizada era uma realidade para muitos compositores, que enfrentavam prisões e interrogatórios por suas letras consideradas subversivas.
Encontros de Samba e Resistência Cultural
A contestação sempre houve’, disse. De acordo com Penteado, outra forma de resistência foram os encontros de samba que algumas escolas começaram a realizar. O primeiro foi da Camisa Verde e Branco, que recebia estudantes de uma universidade próxima. ‘A nossa resistência na escola Vai-Vai era fazer o que não podia. Diziam ‘não pode ensaiar na Rua 13 de Maio’, era lá que a gente ia ensaiar. A troca de interesses entre as agremiações e o governo ditatorial era evidente, com uma relação de benefício mútuo.
As escolas buscavam formas de manter sua tradição e expressar sua cultura, enquanto o regime autoritário via nas escolas de samba uma maneira de manter sua popularidade e controle sobre a população. A resistência cultural se manifestava nos enredos progressistas e nas críticas sociais presentes nos desfiles, mesmo diante da pressão da censura e da repressão política.
Temas Polêmicos e Enredos Progressistas
Simone Tobias, neta de Inocêncio Tobias, um dos fundadores da Camisa Verde e Branco, e filha de Carlos Alberto Tobias, que foi presidente da escola, lembrou o que passou. Em 1972, a escola escolheu o enredo Chamada aos Heróis da Independência, de autoria de Geraldo Filme, e teve que passar pelo crivo da censura. O tema abordava questões sensíveis e críticas ao regime militar, o que gerou tensão e repressão por parte das autoridades.
As escolas de samba enfrentaram momentos de apreensão e resistência diante das tentativas de censura e repressão. Os desfiles críticos e as trocas de interesses entre as agremiações e o governo ditatorial marcaram esse período conturbado da história do carnaval brasileiro. Mesmo sob forte vigilância e perseguição, as escolas de samba buscavam manter viva sua tradição e resistir às imposições do regime militar. A luta por temas progressistas e a liberdade de expressão se tornaram marcas desse período de repressão e resistência.
Fonte: © TNH1
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