Pela quinta vez seguida, autoridade monetária dos EUA evita definir ciclo de queda dos juros, em meio à desinflação e economia aquecida. Indefinição gera incerteza em todos os setores.
Enquanto Esperando Godot, os personagens Vladimir e Estragon passam o tempo refletindo sobre suas vidas e aguardando a chegada de Godot, que nunca aparece. A peça de Samuel Beckett é conhecida por abordar temas como a existência humana, a falta de sentido da vida e a espera infinita por algo que pode nunca chegar.
Em meio à expectativa de que Godot finalmente chegue, Vladimir e Estragon continuam suas conversas e brincadeiras, tentando preencher o vazio da espera. A expectativa se mistura com a incerteza do futuro, criando um ambiente de angústia e questionamento sobre o propósito de suas vidas.
Esperando Godot: a longa agonia do mercado financeiro
A reunião desta quarta-feira, 20 de março, do Federal Reserve – o banco central dos Estados Unidos – seguiu o mesmo roteiro das cinco anteriores, desde agosto do ano passado: cercada de expectativa de um anúncio de quando teria início o ciclo de queda da taxa de juros, terminou sem alteração das taxas atuais (entre 5,25% e 5,5% ao ano) e nenhuma indicação clara do Fed de quando os juros vão efetivamente começar a baixar.
No comunicado final, os 18 integrantes do banco central americano continuaram a prever que os juros tendem a cair até o fim do ano, sem dar números, isso se a inflação (hoje em 3,2%) diminuir. Também divulgaram um novo conjunto de estimativas econômicas trimestrais, que prevê três cortes de juros ao longo do ano – exatamente a mesma previsão feita em dezembro, que ainda não saiu do papel.
A agonia do aguardando mercado de trabalho durante a pandemia
Essa indefinição está causando uma sensação de angústia em todos os setores da sociedade americana que lembra os dois personagens da peça Esperando Godot, de 1954, do dramaturgo irlandês Samuel Beckett – que, num auto-questionamento da existência humana, mantêm um longo diálogo enquanto esperam a chegada do tal Godot, que nunca aparece.
O mercado financeiro, por exemplo, espera uma sinalização do Fed quanto aos juros para reestruturar sua carteira de investimentos e analisar opções a médio prazo. O setor industrial também vem adiando decisões estratégicas, à espera da redução dos juros.
Parte dessa indefinição se deve à trajetória da economia americana, ainda sob impacto dos solavancos causados pela pandemia no sistema financeiro global. Entre 2022 e 2023, o Fed aumentou 11 vezes a taxa de juros para conter a escalada da inflação nos EUA, a maior desde a década de 1980.
O ápice inflacionário atingiu 9,2% em junho passado e, desde então, começou a cair, até chegar a 3,2% na base anual em fevereiro – ainda distante da meta de 2% estabelecida pelo Fed. É justamente a resistência da inflação em alguns setores, como de alimentos e serviços, que impede a autoridade monetária americana de começar a reduzir os juros.
Autoridade monetária e o desafio da desinflação
A ironia é que o clima de indefinição dos juros contrasta com os bons resultados da economia americana nos últimos meses. Além da queda da inflação, os EUA permaneceram com o mercado de trabalho aquecido durante o ciclo de inflação e juros elevados – o índice de desemprego, que atingiu baixa histórica de 3,6%, está atualmente em 3,9%.
Já o S&P 500, principal índice do mercado de ações dos EUA, teve alta de 24,2% em 2023 e de 4,3% nos três primeiros meses deste ano. O crescimento estimado do PIB para 2024 está em 2,1%, em comparação com os 1,4% projetados em dezembro. Carla Argenta, economista-chefe da corretora CM Capital, afirma que a condução da política monetária pelo Fed tem sido assertiva.
Mas reconhece que a autoridade monetária titubeou a longo do processo de aperto dos juros, com pausas no…
Continua…
Fonte: @ NEO FEED
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