Casa familiar com ausência muito dura. Coisas novas bonitas substituem o que foi construído. Piscina vazia quebrada, dia subtraído.
Hoje visitei a residência do meu pai, que ainda tem o toque da minha mãe. Nas paredes, memórias que ecoam a presença do meu pai. Aconchego que meu pai sempre buscou proporcionar para a família. Vi inúmeras mudanças, muitas transformações. O legado que meu pai deixou aos poucos se desfaz. Novos elementos surgem, renovando o ambiente que ele criou. Ao me deparar com o jardim abandonado, percebi a natureza reclamando seu espaço, um reflexo da passagem do tempo e das nossas vidas.
A figura paterna, esse pilar de afeto e proteção, é eternizada em cada canto da casa. O patriarca que moldou nossa história, que deixou marcas profundas em cada tijolo e móvel. Em meio às lembranças, sinto a presença do meu genitor em cada detalhe, mesmo diante das mudanças inevitáveis. O legado do pai permanece, mesmo que em formas diferentes, lembrando-me sempre da sua força e amor incondicional. Cada espaço carrega a herança do meu pai, perpetuando sua presença em nossas vidas de forma única e especial.
Reflexões sobre a figura paterna
É tão peculiar refletir sobre o meu pai. O tempo passou inúmeras vezes e ele não presenciou essas mudanças. E tudo se reorganizou de uma forma que me deixa perplexa, sem saber onde ele estaria se estivesse presente. Na verdade, fico imaginando onde eu estaria e tenho plena certeza de que não estaria onde me encontro atualmente. As visões de um mundo com ele tornam-se cada vez mais abstratas, distantes e estranhas. Cada novo dia traz consigo também um dia subtraído, uma ausência muito dura.
Do meu genitor, lembro-me desde sempre. Aquele homem magnífico, robusto, valente, corajoso, honrado e justo. Ele era a minha fortaleza, o meu porto seguro, o meu refúgio. O lugar para onde eu poderia retornar sem hesitação, uma e outra vez, infinitamente. Após sua partida, embarquei em uma busca frenética e desesperada por continuar ao seu lado, o meu ponto de equilíbrio neste mundo turbulento. Sua falta é palpável, especialmente quando o protagonista é ele, meu pai, meu patriarca.
A última revelação marcante que ele teve sobre a minha vida foi a certeza de que eu seria mãe de um menino, batizado como Leonardo. Ele testemunhou minha chegada, meu desembarque neste mundo, e soube que eu finalmente estava em casa, após a maior jornada que alguém pode empreender neste planeta. Isso lhe trouxe paz, mesmo naquele derradeiro momento. Ele estava radiante.
E a última grande revelação que tive sobre mim mesma foi sobre a maternidade, a volta para casa com um rebento que transformaria irrevogavelmente a estrutura da minha existência. Chamar meu filho de Leonardo era uma forma de homenagear meu pai, de demonstrar meu amor por ele. Segui um caminho distinto do conselho maternal de revelar o nome apenas durante o parto – surpresas nunca foram meu forte – felizmente.
Expressar amor requer coragem, e naquela hora, raramente, eu estava genuinamente orgulhosa de mim mesma. O avião pousou, despertando-me do sono, e o impacto do trem de pouso simbolizou minha despedida. Mal podia imaginar o futuro: a dor, as lágrimas, o desespero.
Lembro-me da sensação de medo repentino, um alerta emitido pelas conexões que nos unem aos entes queridos. Não sou dada a misticismos, contudo, naquele instante, senti que algo grave estava por acontecer. O medo era real, visceral, e ansiava desesperadamente pela presença do meu pai.
E então, vi-o. Cambaleante. Aquele ser imponente, robusto como um touro, feroz como um leão, aquele gigante, vindo em minha direção, sangrando por dentro, enfrentando a dor e a morte. Seus derradeiros passos foram em minha direção, um gesto de amor indescritível.
Depois que ele se foi, fiquei sem rumo. Uma nova e sombria narrativa se impôs para minha mãe, minha irmã, para o pequeno Leonardo que estava por vir e para mim. O caos se estabeleceu em nossas vidas, e tudo mudou para sempre.
Fonte: © TNH1
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