Decisões motivadas pelo pânico podem materializar expectativas ruins. Princípio do sell-off: taxa de juros no carry trade.
Uma semana após a Black Monday que abalou os mercados financeiros em todo o mundo, desencadeada pelo colapso da Bolsa de Valores japonesa, já é possível vislumbrar algumas causas por trás desse caos, ou o que poderia estar por trás dessa histeria. O gatilho para o sell off, ou a venda em massa de ativos, foi o aumento da taxa de juros promovido pelo Banco Central japonês, tornando as operações de carry trade mais caras – quando investidores tomam empréstimos em uma moeda com juros baixos para investir em outra com juros mais altos.
Na segunda-feira negra, os investidores foram pegos de surpresa com a rápida deterioração do mercado, o que levou a uma cascata de vendas. A volatilidade extrema e a falta de confiança resultaram em perdas significativas para muitos participantes do mercado, mostrando como eventos aparentemente isolados podem desencadear reações em cadeia inesperadas.
Black Monday: A Segunda-feira Negra do Mercado Financeiro
Ocorre que após um longo período de taxas entre o negativo e zero, o Banco Central japonês decidiu elevar os juros em 0,25% ao ano, aumentando o custo das operações. Isso, somado à forte valorização da moeda japonesa em relação ao dólar, resultou em prejuízos para os investidores, levando-os a encerrar suas posições.
Por este relato, a menos que houvesse uma montanha de operações de carry trade em moeda japonesa, o que não parece ser o caso até agora, poderíamos apontar o desmonte do carry trade como a causa do pânico. No entanto, a rápida recuperação do mercado mostra que não é bem assim.
Passa-se então para o segundo motivo amplamente discutido, que é o medo de uma recessão nos Estados Unidos. O derretimento do mercado japonês teria sido o gatilho que arrastou os demais mercados. No entanto, os dados econômicos divulgados sobre a economia americana não parecem confirmar esse cenário.
Nas últimas semanas, relatórios indicam que a taxa de desemprego nos EUA está em alta, atingindo 4,3% em julho, com um aumento de 0,2% em um mês. A criação de empregos está diminuindo e a inadimplência no cartão de crédito está em ascensão. Todos os indicadores são negativos, não há dúvidas.
Mas, considerando mais de dois anos de aperto monetário e mais de 12 meses com a taxa de juros básica acima de 5% ao ano, era de se esperar que a economia americana começasse a desacelerar. Afinal, por que o Federal Reserve (FED) tem mantido as taxas de juros tão altas? Para conter a demanda, reduzir a pressão sobre os preços e levar a inflação à meta de 2%.
A discussão sobre quando o FED começaria a flexibilizar a política monetária tem sido frequente nos mercados. O debate gira em torno do momento e da intensidade dessa mudança na economia. Alguns acreditam em uma suave desaceleração (soft landing) para atingir a meta de inflação, enquanto outros temem uma queda mais brusca (hard landing).
O ponto central é que ninguém parecia considerar a possibilidade de a inflação voltar ao normal sem alguma desaceleração econômica. O cenário ideal sempre foi o soft landing. Alguns argumentam que o medo de uma recessão severa, um hard landing, foi o motivo por trás desse sell-off. No entanto, os dados disponíveis não corroboram essa preocupação.
Pode-se interpretar que talvez estejamos no início de um pouso suave, o que seria o cenário mais favorável. Apesar dos sinais fracos vindos do Japão e dos EUA, foram suficientes para causar pânico no mercado. A única certeza é que os participantes do mercado estão ansiosos e apreensivos.
A última semana foi como uma cena de faroeste, com cada um tentando se proteger do turbilhão. A incerteza paira no ar, mas a esperança é de que o mercado encontre seu equilíbrio novamente. A Black Monday deixou marcas, mas a resiliência dos investidores pode ser a chave para superar essa crise.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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