Júlio César reorganizou o caótico calendário romano, introduzindo anos bissextos a cada 4 anos devido à forma peculiar de contagem dos romanos e sua superstição com números pares.
Em tempos antigos, o calendário nem sempre era preciso. As estações do ano nem sempre coincidiam com as datas marcadas para as festividades. Por exemplo, imagine só celebrar o solstício de inverno em pleno verão! Felizmente, ao longo dos séculos, o calendário foi sendo aprimorado para se adequar melhor às mudanças climáticas e astronômicas.
O desenvolvimento do sistema de datas ao longo da história foi fundamental para organizar a sociedade. Imagine se não tivéssemos um calendário para nos orientar em relação aos dias, meses e anos. Seria um verdadeiro caos! Graças ao esforço de estudiosos e astrônomos, hoje podemos contar com um calendário preciso e confiável para nos guiar em meio ao tempo. E isso é algo que não podemos subestimar. Datas e calendário são elementos essenciais para a estruturação da nossa rotina e da nossa vida em sociedade.
A evolução do calendário ao longo da história
Ele ficou tão desregulado que importantes festivais anuais tinham cada vez menos semelhança com o que acontecia no mundo real. Até que Júlio César (100 a.C.-44 a.C.) quis corrigir esse sistema que não fazia mais sentido. Não era uma tarefa fácil. Era preciso acertar o calendário do Império Romano e ajustá-lo para a rotação da Terra sobre seu eixo (um dia) e sua órbita em torno do Sol (um ano).
🧮 A solução encontrada por César nos deu o ano mais longo da história. Ele acrescentou meses ao calendário e os retirou em seguida, fixou o calendário às estações e criou o ano bissexto. Foi um projeto enorme, que quase deu errado devido a uma peculiaridade da matemática romana. Estamos em 46 a.C. – o Ano da Confusão. O ano de 46 a.C.
pode ter sido complicado, mas não tanto quanto o anterior, segundo a professora de história Helen Parish, visitante da Universidade de Reading, no Reino Unido. O primeiro calendário romano era determinado pelos ciclos da Lua e do ano agrícola. Observando com os olhos modernos, a impressão é que está faltando alguma coisa. 🗓️ O ano tinha apenas 10 meses.
Ele começava em março (primavera do hemisfério norte) e o décimo mês do ano – o último – era o que conhecemos hoje como dezembro. Seis desses meses tinham 30 dias e quatro tinham 31. Ao todo, o ano tinha 304 dias.
Como ficavam, então, os dias restantes?
‘Os dois meses do ano em que não havia trabalho a se fazer no campo simplesmente não eram contados’, explica Parish.
Em outras palavras, o Sol nascia e se punha, mas oficialmente não havia se passado nenhum dia no primeiro calendário romano.
‘Foi aí que começaram a surgir as complicações’, segundo a professora. Em 731 a.C., o segundo rei de Roma, Numa Pompílio (753 a.C.-673 a.C.), decidiu melhorar o calendário romano. Ele acrescentou meses adicionais para cobrir o período de inverno.
‘Qual o propósito de um calendário que cobre apenas uma parte do ano?’, questiona Parish.
A resposta de Pompílio foi acrescentar 51 dias ao calendário, criando os meses que hoje chamamos de janeiro e fevereiro. Esta extensão aumentou o ano-calendário para 355 dias.
O número pode parecer estranho, mas foi escolhido de propósito. Este número faz referência ao ano lunar (12 meses lunares), que tem 354 dias de duração. Mas, ‘devido à superstição romana com os números pares, foi acrescentado mais um dia, totalizando 355’, segundo Parish. Nesta reorganização, os meses foram dispostos de forma que todos tivessem números ímpares de dias, exceto fevereiro (28).
‘Por isso, fevereiro é considerado de má sorte e a época de purificação social, cultural e política’, segundo Parish. ‘É o momento em que você tenta apagar o passado.’
Para a professora, o calendário de Pompílio foi um bom progresso, mas ainda faltavam cerca de 11 dias para atingir o ano solar de 365 dias e algumas horas.
👉🏾 ‘Mesmo esse calendário melhorado…
As complexidades do calendário romano
…de Pompílio ainda fica dessincronizado com as estações com muita facilidade.’ Perto do ano 200 a.C., o calendário estava tão adiantado que os romanos registraram como tendo ocorrido em 11 de julho um eclipse solar quase total observado em Roma no que hoje seria o dia 14 de março.
Quando o calendário atingiu esse ponto de ‘erro tão catastrófico’, nas palavras de Parish, o imperador e os sacerdotes romanos recorreram à inserção pontual de um mês ‘intercalado’ adicional, chamado mercedônio, para tentar realinhar o calendário às estações. Mas isso não funcionou muito bem.
Havia, por exemplo, a tendência de acrescentar o mercedônio quando autoridades públicas favorecidas estavam no poder e não para alinhar rigorosamente o calendário às estações. O historiador e escritor clássico Suetônio (69-c.
141) queixava-se de que ‘muito tempo atrás, a negligência dos pontífices havia desordenado muito [o calendário], com seu privilégio de acrescentar meses ou dias segundo sua própria vontade, de forma que os festivais da colheita não caíam no verão, nem o das uvas, no outono.’ O que nos traz de volta a Júlio César. No ano de 46 a.C. já estava programada a inclusão de um mercedônio.
Mas o astrônomo Sosígenes de Alexandria, consultor de César, afirmou que o mês adicional não seria suficiente daquela vez. Seguindo o conselho de Sosígenes, César acrescentou mais dois meses nunca vistos antes ao ano de 46 a.C. – um com 33 e outro com 34 dias – para alinhar o calendário ao Sol. Estas adições criaram o ano mais longo da história, com 445 dias, ou 15 meses.
Após 46 a.C…
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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