63% dos brasileiros têm parte da renda comprometida com apostas on-line. O comprometimento é de 8,38% da renda média e quase 20% do salário-mínimo.
Certa vez compartilhei aqui a vivência com jogos. Foi em 2010. Uma loucura. Gastei R$ 50 em fichas e em questão de minutos. Fiquei tão chocado que nunca mais quis participar. Até encaro um jogo de cartas com uma xícara de café. Mas pelo café, é claro, mas me divirto quando venço algumas rodadas. Mas é o limite para mim. Mas nem todos têm a mesma sorte, infelizmente.
Alguns preferem apostas mais ousadas, outras atividades de lazer. Cada um com sua preferência. Mas no final das contas, o importante é se divertir de forma responsável. Afinal, cada um tem seu jeito de aproveitar os jogos.
Jogo: Um Estudo Sobre Apostas e Atividades Recreativas
Um estudo recente realizado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) em colaboração com a AGP Pesquisas, intitulado ‘Impacto das apostas esportivas no comércio varejista brasileiro’, trouxe à tona dados intrigantes sobre o comportamento dos brasileiros em relação ao jogo. Descobriu-se que 63% dos brasileiros que se envolvem em apostas on-line acabam comprometendo parte de sua renda nessas atividades de entretenimento.
A pesquisa não fornece detalhes precisos sobre o percentual de renda comprometida, mas levando em consideração a renda média dos brasileiros nos primeiros três meses deste ano, conforme os dados do estudo ‘Retrato dos Rendimentos do Trabalho – Resultados da PNAD Contínua do Primeiro Trimestre de 2024’, e o valor médio gasto nos sites de apostas, que é de R$ 263, podemos inferir que o comprometimento chega a 8,38% da renda média e quase 20% do salário-mínimo.
Embora possa parecer insignificante à primeira vista, esse pequeno percentual pode se transformar em um grande desastre financeiro para muitos indivíduos. A indústria de apostas movimenta bilhões de reais a cada ano, e a expectativa é que ultrapasse a marca de R$ 130 bilhões neste ano.
Um aspecto que chamou atenção no estudo da SBVC foi a origem do dinheiro destinado às apostas. Entre os apostadores entrevistados, 23% deixaram de adquirir roupas, 19% reduziram suas compras em supermercados, 14% cortaram gastos com produtos de higiene e beleza, e surpreendentemente, 11% diminuíram os investimentos em cuidados de saúde e medicamentos.
O jogo, com sua natureza viciante, é capaz de desencadear reações químicas no cérebro que proporcionam prazer e satisfação. A liberação de dopamina, conhecida como o hormônio da felicidade, pode levar a um ciclo vicioso de busca por mais emoções e recompensas, tornando o jogo uma atividade perigosa quando não controlada.
Por outro lado, as atividades recreativas, como os jogos, oferecem uma experiência de entretenimento estruturada e competitiva, promovendo diversão e interação social. Quando praticadas de forma equilibrada, essas atividades podem contribuir significativamente para a qualidade de vida e a saúde mental.
No entanto, o problema surge quando o equilíbrio entre o lazer e as responsabilidades é rompido. Apesar dos esforços para regulamentar o jogo, é crucial abordar essa questão sob diversas perspectivas, incluindo a econômica, fiscal, financeira e de saúde.
O transtorno relacionado à compulsão por jogos é reconhecido internacionalmente, com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) incluindo o jogo patológico como uma condição clínica. Essa classificação não faz distinção entre jogos eletrônicos, de azar ou de apostas, destacando a necessidade de um olhar mais amplo sobre o impacto do jogo na sociedade.
Uma das preocupações levantadas pela pesquisa da SBVC é o fato de que o dinheiro direcionado para o jogo não contribui para a circulação econômica de forma efetiva. Enquanto em outros setores, como o turismo, a troca de dinheiro gera movimentação financeira contínua, as apostas tendem a reter os recursos, sem gerar benefícios tangíveis para a sociedade.
Em última análise, é essencial repensar a regulamentação e o controle das atividades de jogo, a fim de mitigar os impactos negativos e promover uma abordagem mais responsável e sustentável em relação a essa forma de entretenimento. A conscientização sobre os riscos e consequências do jogo descontrolado é fundamental para garantir que as pessoas possam desfrutar da experiência de forma segura e saudável.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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