Inflação anual no Reino Unido atinge 2%, sem impacto nas eleições de julho. Não deve haver corte seguro nas taxas de juros.
Desde o início do ciclo recente de aumento das taxas de juros, três bancos centrais do Primeiro Mundo (dos Estados Unidos, da União Europeia e do Reino Unido) começaram uma competição para ver quem alcançaria primeiro a meta de inflação anual de 2% — o que permitiria ao vencedor começar a reduzir as taxas de juros.
Enquanto isso, no Brasil, o índice de preços ao consumidor continua a refletir o constante aumento de preços, impactando diretamente o custo de vida da população. A preocupação com a inflação e seu efeito sobre o custo de vida permanece alta entre os brasileiros, que buscam maneiras de lidar com essa realidade econômica desafiadora.
Impacto da inflação nas decisões do Banco da Inglaterra
Coube ao Banco da Inglaterra (BoE), o BC britânico – considerado o ‘azarão’ nessa disputa -, fazer o anúncio na quarta-feira, 19 de junho, do grande feito, com a inflação de maio atingindo 2% ao ano, índice obtido pela última vez em julho de 2021. O aumento da inflação ao consumidor é um indicador crucial para a saúde econômica de um país, refletindo o custo de vida e o impacto nos preços de bens e serviços.
Embora o número represente um marco para a economia do Reino Unido sob o governo do primeiro-ministro Rishi Sunak após o pior aumento inflacionário numa geração, não houve comemoração. A aparente contradição se deve ao grande vilão atual da economia britânica, a inflação de serviços, que continuou elevada mesmo com a queda gradual e segura do índice geral de preços no país.
Enquanto o índice geral de inflação em maio foi de 2%, a de serviços fechou o mês em 5,7%, puxado por aumentos de 14,9% de passagens aéreas e entre 6% e 11% de um combo de serviços (que inclui uma refeição quente no pub, um prato principal no restaurante, taxas de babá, comida para viagem e ingressos para teatro). O aumento dos preços dos serviços tem um impacto direto no custo de vida dos cidadãos britânicos, afetando seu poder de compra e suas decisões de gastos.
Além da inflação de serviços, o núcleo de inflação (que exclui alimentos e energia) também seguiu em elevação em maio, atingindo 3,5%. Com isso, não surpreende que a possibilidade de a política monetária do BoE baixar os juros, hoje em 5,25% ao ano (só perde para os EUA entre as nações ricas, com teto de 5,5% ao ano) tenha caído ainda mais depois da divulgação dos dados da inflação.
O mercado de futuros sugere agora que a probabilidade de um corte nas taxas de 0,25 ponto percentual até agosto é inferior a um terço, abaixo dos 45% registados pouco antes da publicação dos dados. A queda nas taxas de juros é uma medida que os bancos centrais podem adotar para estimular a economia e controlar a inflação, mas a decisão deve ser tomada com cautela para evitar impactos negativos no longo prazo.
Parte desse pessimismo foi alimentado pelo próprio BoE, que em reunião recente previu que a inflação geral, mesmo em queda, aumentaria novamente no final deste ano, aproximando-se de 2,6% no último trimestre. Ou seja, a redução seria passageira, à medida que o impacto da queda dos preços da energia se dissipar. A análise cuidadosa do índice inflacionário é essencial para prever tendências futuras e tomar decisões econômicas informadas.
Recuperação tardia Mesmo com uma perspectiva ainda distante de queda de juros, a inflação na meta foi destacada pelo primeiro-ministro Sunak. ‘Eu sei que tivemos muitos choques, mas seguimos um plano, tomando medidas que nem sempre foram fáceis e chegamos lá’, disse. O controle da inflação é um desafio constante para os governos, pois afeta diretamente a qualidade de vida da população e a estabilidade econômica do país.
‘A inflação voltou à meta e isso significa que as pessoas começarão a sentir os benefícios e a aliviar alguns dos encargos sobre o custo de vida.’ O tom de consolo das declarações de Sunak reflete o longo pesadelo do Reino Unido, que teve início em 2016 com o Brexit, o polêmico plebiscito que aprovou a saída do país da União Europeia (UE), prosseguiu com a pandemia e com a guerra entre Rússia e Ucrânia e piorou com o atual ciclo de inflação e juros altos.
Neste período, o país teve cinco primeiros-ministros, todos conservadores. Só em 2020, durante a pandemia, a economia britânica caiu 11%, pior desempenho em 300 anos. A inflação atingiu 11,1% em outubro de 2022, índice mais elevado no atual ciclo que o pico registrado no mesmo mês pela zona do euro (10,6%) e pelos EUA pouco antes, em junho (9,1%). A gestão eficaz da inflação é essencial para garantir a estabilidade econômica e o bem-estar da população.
Entre dezembro de 2021 e agosto de 2023, o BoE aumentou a taxa de juros 14 vezes, mais que o necessário para conter a inflação e manter a economia sob controle. O equilíbrio entre o crescimento econômico e o controle da inflação é um desafio constante para os bancos centrais em todo o mundo, exigindo uma abordagem cuidadosa e estratégica para garantir a sustentabilidade a longo prazo.
Fonte: @ NEO FEED
Comentários sobre este artigo