Leonardo Riella surpreende com o primeiro rim de porco transplantado em humano. Especializado em resultados de xenotransplantes e manipulação do sistema imunológico.
A minha vida sempre foi permeada por discussões sobre medicina. Desde pequeno, nutria o desejo de seguir carreira na área da saúde. Meu pai, um renomado nefrologista, sempre me inspirou com sua paixão pela inovação e pesquisa. Por isso, ao concluir minha graduação na Universidade Federal do Paraná, decidi buscar minha especialização nos Estados Unidos. Inicialmente, pensava em me dedicar à nefrologia, mas tudo mudou quando passei por um transplante e fiquei maravilhado com a experiência.
A vivência do transplante foi transformadora, despertando em mim um novo olhar sobre a medicina e os procedimentos cirúrgicos. A partir desse momento, senti uma forte conexão com a área e decidi direcionar minha carreira para a realização de cirurgias de transplante. O universo complexo e desafiador dos transplantes me cativou de uma maneira única, e hoje estou focado em aprimorar minhas habilidades nesse procedimento cirúrgico tão especial e impactante.
Explorando a Especialidade em Cirurgia de Transplante
Era uma especialidade em que você via, da noite para o dia, os pacientes que estavam sofrendo em diálise recebendo um rim novo e, posteriormente, indo para casa. Uma melhora inigualável. Nessas subáreas da medicina, também fiquei maravilhado em conhecer a imunologia, porque, com o conhecimento sobre o sistema imune, é possível revolucionar alguns tratamentos, como o do câncer.
Foco na Manipulação da Imunidade para Melhorar Transplantes
Eu estava muito exposto à pesquisa e me interessei em saber como manipular a imunidade para aprimorar o campo dos transplantes. Primeiro, a ideia era desenvolver melhores drogas para evitar a rejeição de órgãos. Em seguida, trabalhar para diminuir ou criar maneiras de superar a escassez de órgãos para transplante.
Estava envolvido em mais de vinte projetos no laboratório e trabalhando com mais de dezoito pessoas. Metade brasileiros, estudantes e médicos que estão fazendo residência aqui.
Avanços nos Resultados de Xenotransplante e Desafios Futuros
Nos últimos três anos, os resultados de xenotransplantes, os transplantes entre espécies diferentes, começaram a ter bons resultados em primatas não humanos devido à combinação entre novas drogas imunossupressoras e o acesso aos porquinhos corretos. Mas a grandiosidade de ter sucesso nesse procedimento em um humano não era algo em que eu e a equipe estávamos pensando.
Um trabalho semelhante a outros estudos foi realizado, avisando ao Massachusetts General Hospital que não queríamos cobertura da mídia para não prejudicar a concentração da equipe. Foi um processo muito longo, mais de um ano para a seleção do paciente, até receber o consentimento da agência reguladora americana, a FDA.
Uma Cirurgia de Transplante que Marcou História
Eram mais de vinte páginas de riscos conhecidos e desconhecidos ao transplantar o rim de um porco para um ser humano. Foi bem intenso no último mês. Uma vez que o paciente foi identificado, mandamos um protocolo para a FDA e, durante quatro semanas, dedicamos 90% do nosso tempo ao projeto.
O dia da cirurgia, 16 de março, foi escolhido em um fim de semana para não ter pessoas ao redor. A retirada do órgão ocorreu em outra localidade, e a cirurgia se passou conforme imaginado. Ao conectar o rim do porco à artéria e à veia do paciente, o sangue começou a entrar e o órgão mudou de cor, produzindo urina imediatamente.
O Momento Emocionante do Transplante
Todo mundo começou a bater palmas. Foi um momento emocionante. Era uma cirurgia complicada, porque o paciente tem diabetes e doença vascular. Foi como montar um quebra-cabeça de 500 peças. Mesmo assim, ele já passou pela parte mais difícil e está em casa, embora com incertezas.
Busca por Mais Conhecimento e Estudos Futuros
Mesmo assim, vamos monitorá-lo com atenção para obter o maior conhecimento possível e fazer um estudo com mais pacientes. No fundo, gostaria que a notícia do transplante ajudasse a aumentar a prevenção da doença renal. Ela costuma ser diagnosticada tardiamente, sendo o transplante o tratamento terminal. O que aconteceu foi uma explosão.
Fonte: @ Veja Abril
Comentários sobre este artigo